Informação e conhecimento em tempos de internet

A internet sem dúvida é uma maravilha da atualidade, encurtou as distâncias, aproximou as pessoas, tirou, consideravelmente, o poder a TV aberta, minando assim esse monopólio de informação, imparcial em grande parte das vezes. Mas claro, há pontos negativos, a internet agora é mais uma coisa que as pessoas precisam aprender, amadurecer para poder utilizar com sabedoria. 

A internet permitiu que as pessoas pudessem questionar toda e qualquer informação, eliminando qualquer filtro de conteúdo e temática. Na mesma timeline onde se recebe uma informação chegada de um grande portal que se responsabiliza pelo que publica, recebe-se um contraponto sem embasamento e emitido por alguém que em grande parte dos casos não teriam habilitação para tal. 

Publicar um livro ou artigo requer revisão por pares, e isso acaba sendo o filtro, o detalhe que torna uma revista científica confiável para se basear e obter conhecimento. A internet tornou esse processo dispensável no que diz respeito a poder ou não publicar. Você pode digitar um livro e publicá-lo num site ou blog qualquer, sem filtro, sem revisão, sem nada que possa averiguar as informações nele contidas, e isso é um problema. 

A internet é democrática ao ponto de dar vida ao pensamento desestruturado e sem embasamento, essa democratização na publicação causou um caos no processo de obtenção de informação, colocou ciência e teorias da conspiração lado a lado. Não faz muito tempo que essa gente maluca e conspiracionista não tinha onde publicar suas ideias erradas e sem embasamento, nenhuma editora iria aceitar publicar um livro que pudesse em algum momento virar uma piada literária ou motivo de descrédito para a empresa. Isso mantinha as coisas mais ou menos em seu devido lugar, cientistas publicando em revistas sérias, ou escrevendo livros que eram publicados por editoras sérias. Enquanto os malucos viviam nas sombras, cozinhando suas teorias sem poder contá-las para ninguém. Essa é uma realidade interessante que às vezes dá saudade. 

Com tudo isso não quero aqui fazer uma apologia contra a internet. A internet é uma maravilha dos tempos que vivemos, ela proporciona um modo de vida bem melhor do que em outros tempos, tudo evoluiu mais rápido. Meu desejo é que a internet se torne cada vez mais ampla, mais potente, mais acessível chegando com qualidade a todas as pessoas. Mas desejo também que haja ferramentas que a regulem, filtros que impeçam mentiras de serem propagadas. O que eu quero mesmo é convidar o leitor a refletir sobre alguns pontos relacionado ao empoderamento coletivo na criação e propagação da informação. 

O conhecimento aprendido na academia tende a vir de forma organizada, seguindo algum método que permita o estudante enxergar a situação de forma ampla. Isso é evolutivo, se conseguimos aprender forma ampla, conseguimos refletir, ser críticos, nos apropriar e contribuir para aquele caso em estudo. Na contramão, o que se recebe pela internet em suas aplicações mais simplórias como as redes sociais, não chega nem a ser conhecimento. São informações fragmentadas e descontextualizadas, às vezes falsas e, se verdadeiras, recortadas de forma desonesta. O conhecimento é construído pelo indivíduo, apoiado nas informações que consegue reter mas, se as informações recebidas forem falsas e desencontradas, o conhecimento assim também será – desfragmentado, desestruturado, descontextualizado, marginal à realidade adotada como padrão pela sociedade e comunidade mundial. 

Vemos o tempo todo as pessoas repetirem manchetes de editoriais tendenciosos sem se quer saber o que está no conteúdo da matéria. O indivíduo recebe logo cedo notificação dos jornais com as manchetes e é só isso que ele vai saber sobre o assunto: a manchete. Com base na manchete, os donos de grupos, páginas e perfis sociais desenvolvem uma notícia paralela com base na manchete de um editorial que eles não leram. Mas eles escreverão de forma eloquente, com um português simplório, de fácil entendimento a um público bem específico que, no nosso país, é grande maioria. E aí pronto, está feita uma fake news. Agindo dessa forma, as pessoas repetem bordões como: “Lula ladrão”, “o problema do brasil é a corrupição”, “professor não falar de política”, “mamadeira de piroca”, “político é tudo igual”, etc. Para casos assim, sugiro que as pessoas façam um exercício bem simples ensinado ainda nos anos iniciais na escola: por quê? Exemplo: se o problema do brasil é a corrupção, quanto ela significa no orçamento da união? Quem está roubando? Se o Lula é ladrão, quanto ele roubou, de quem roubou, onde estão as provas? Se político é tudo igual, como os presidentes anteriores agiram em relação a AIDS, H1N1, e outras doenças do passado como sarampo, rubéola, caxumba etc.? Se o professor é capaz de doutrinar um aluno, como ele não consegue convencer um aluno a estudar para uma prova, ou simplesmente para respeitá-lo em sala de aula? Se a operação lava-jato foi um sucesso por que ela se desmantelou? Quem quebrou a operação? Quem se beneficiou da operação, quanto ela custou aos cofres públicos? Por que ela quebrou as empresas envolvidas e levou ao desemprego de mais 4 milhões de pessoas? Por que o saldo dela é negativo? Se o Brasil está vacinando sua população de forma adequada, por que 138 países fecharam suas fronteiras com o nosso país por medo de irmos lá infectar suas populações? Se a economia vai bem, por que a gasolina passou de 6 reais? Por que o cidadão médio não está mais tendo de condições de comprar gás de cozinha, recorrendo ao fogão a lenha? Por que não pode mais comprar carne etc.? As perguntas são quase infinitas, só teremos conhecimento sobre esses tópicos quando formos capazes de responder essas perguntas, pois decorar manchete de jornais e repetir é muito mais um sintoma de burrice empoderada. 

A informação de manchete em manchete ou de bordão a bordão é destrutiva pois não permite a construção de conhecimento. É impossível ter um vislumbre do quadro completo com informação faltante, com lacunas. É necessário pensar a respeito, fazer as contas, conferir as finanças do governo, entender para onde realmente está indo o dinheiro. Sem fazer isso estaremos eternamente sofrendo, sendo apenas uma peça dessa máquina de gerar riquezas e as acumular nas contas de meia dúzia de bilionários, sem nunca entender por que não importa o que faça, você será sempre pobre. É sério, você que trabalha, tem um salário inferior a 20 mil (pelo menos), você nunca será rico. E se ganhar esse valor ou mais, terá de ser bastante inteligente para poder fazer esse dinheiro trabalhar por você e para talvez um dia ser rico. Como eu já disse em outro texto, o brasileiro é um povo indignado e crítico. O problema é que, devido a falta de informação de qualidade e a incapacidade em transformar informação em conhecimento, acaba indignado com e criticando a coisa ou pessoa errada, caindo assim no velho truque de ilusionismo que consiste em fazer o público olhar para uma mão enquanto a mágica acontece na outra. 

Todo mundo minimamente instruído intelectualmente sabe que informação é poder, provavelmente o maior poder que alguém pode deter. A capacidade de manobrar massas, manipular tendências, sensações, mercado etc. concede ao seu detentor um poder digno de deuses. Com esse pensamento eu insisto que é necessário que haja cada vez mais um maior esforço em regulamentar a internet, filtrar tudo que se fala, tudo que se mostra, para tudo, que haja um CPF para se responsabilizar, e assim por diante. A internet, como veículo de informação, ajudou a eleger pelo menos dois líderes de formação e condutas minimamente questionáveis que fizeram e estão fazendo um papel horroroso e que ainda não foi amplamente percebido. Deram e estão dando prejuízos financeiros e sociais que o mundo levará talvez, décadas para recuperar. Além desses cuidados que precisam ser tomados com relação à internet, eu consigo pensar em mais uma solução ao problema: educação. A internet é maravilhosa na sua concepção, eu faço um uso ótimo dessa feramente, não caio em pegadinhas, consigo não propagar mentiras e consigo acima de tudo acessar informações de qualidade, ampliando assim, e muito rápido, meus conhecimentos. Mas isso só ocorre devido ao fato de que eu tenho conhecimentos prévios obtidos na academia, uma graduação em física e um mestrado em educação que me deixaram mais apto a processar informações, menos vulnerável às fake news e todo tipo de malware criado por pessoas de mal caráter pela internet a fora. Sei fazer contas, entendo de física, entendo de educação, e através da educação aprendi filosofia, psicologia etc. Não de forma profunda, claro, mas vi o básico para encarar esse mundão de meu Deus com muito mais bagagem. Porém sei que sou exceção, o nosso país tem uma capacidade pífia de graduar seus adolescentes.  Mesmo nosso ensino médio de acesso obrigatório deixa muito a desejar com relação à sua carga horária, grade de conteúdo, abordagens didáticas e remuneração e formação de professores. Tudo isso culmina no problema que venho extensivamente discutindo nesse texto. Criamos ano pós ano, um prato cheio para os cretinos que produzem informação falsa ou tendenciosa e que chegam aos nossos irmãos e irmãs brasileiros e brasileiras através do Facebook, Instagram, WhatsApp, etc. Que algum Deus esteja conosco.

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