Quero ser presidente do Brasil!

2022 chegando e os nomes de candidatos começam a surgir, todos os partidos começam a salivar, como cães olhando o frango assar – o frango suculento somos nós todos. 

Analogias a parte, o que me assusta é a qualidade dos nomes, o cargo de presidente de um país – que é drasticamente diferente do cargo de presidente de uma empresa – o chefe de um estado, exige uma forte capacidade em lidar com o contraditório, conseguir governar de forma que agrade pobres e ricos, gente de esquerda, direita e centro, gente dessa e daquelas religiões. Para isso essa pessoa precisa ter um domínio incrível sobre conhecimentos que vão da filosofia até a física, não que seja especialista – creio que essa pessoa não existe – mas que tenha noção, e ainda, saiba lidar com a ocasional falta de conhecimento fazendo o uso das mentes especialistas que este líder poderia se cercar. No fim das contas, precisa que essa pessoa, além de ter posse de um vasto conhecimento sobre diversas áreas da ciência, precisa ser adepto ao método científico e ao alfabetismo científico. 

Poderíamos pensar, então basta escolher um candidato com curso superior. Só que não. O fato de se ter um diploma não te habilita para lidar com temas tão diversos e complexos, problemas que impactam todos nós de forma única, e aí vem a outra faixa do espectro da formação, a experiência. A trajetória de um candidato é um elemento muito importante, talvez até mais importante que a formação acadêmica, se eu tiver de escolher entre um recém-formado e um com ensino médio, mas com muita experiência, eu escolheria o último, pois, apesar de lhe faltar a teoria, ele já teria executado a função inúmeras vezes. 

Elencando formação acadêmica e experiência na função, vem uma outra qualidade necessária: inteligência emocional. Um chefe de estado precisa, mais do que ninguém, ter a capacidade de trabalhar em equipe, precisa compreender o jogo político, afinal, é a função que escolheu para si. Ele precisa todos os dias lidar com colegas de trabalho opositores à suas defesas, alguns desses opositores serão rudes, alguns até violentos e, caberá ao presidente chamar para conversar, negociar, fazer o que for possível para que essa força oposta seja neutralizada (no bom sentido) ou pelo menos não ofereça tanta resistência ao seu governo. Fazer isso não é fácil, alguns de nós não conseguimos fazer isso no trabalho, na sala de aula, ou até dentro das nossas famílias. Agora imagine lidar com tantas autoridades, inclusos aí, deputados estaduais e federais, senadores, prefeitos, governadores estaduais, forças armadas, órgãos regulatórios etc. Lidar com isso não é algo para um estagiário. 

Daí nos perguntamos, por que tanta dificuldade? Simples, vivemos num país democrático, nesse tipo de regime temos o poder dissolvido numa estrutura de pesos e contrapesos, isso impede que decisões sejam tomadas arbitrariamente, impede autoritarismo, impede que se repitam eventos desastrosos que já ocorreram na humanidade quando muito poder fora cedido a uma só pessoa, a vista, nazismo, fascismo, comunismo soviético etc. Colocando em perspectiva, prefiro toda a complicação que na no regime democrático, e essa conclusão já é antiga, eu estou apenas repetindo, desde sua descoberta pelos gregos, vários ajustes e testes foram feitos e a conclusão de que a democracia é o tipo de governo menos ruim que poderíamos ter. Claro, se gostamos de ter direitos. 

Ufa, então quem poderia nos governar? Quem consegue reunir essas 3 qualidades tão complexas? Minhas resposta é que temos que pesquisar, ler as biografias dos candidatos, ou até quem sabe, assistir várias reportagens que contem a história desse fulano, os candidatos mais cotados sempre tem sua vida virada ao avesso pela imprensa, então ainda que este ainda não tenha uma biografia que você possa ler, os jornais, com toda certeza elencará seus feitos durante a vida, e aí fica fácil conhecer mais a respeito, só é claro, não se esquece de cuidar com quem está por traz desse jornalista, assista jornais que tem nome grande a zelar, tenha um mínimo de reputação, que há uma pessoa a responder por tais informações, e ainda, assista a versão de vários veículos de imprensa diferente para se tirar uma média. Fazendo isso pode-se descobrir tudo que você precisa, ficará sabendo onde essa pessoa se formou (se é que se formou, e aí você pode pesar se a instituição é relevante no âmbito acadêmico), ficará sabendo da trajetória do político, tanto pessoal quanto profissional. Ele foi vereador? Foi prefeito? Foi um governo estadual, um deputado ou senador? O que ele fazia antes de ser político? Nisso ficamos sabendo se ele é competente, se ele conseguiu aprovar alguma lei, conseguiu liderar algum projeto benéfico para a população, não se envolveu com escândalos de qualquer que seja o grau e gravidade, se é uma pessoa educada, gentil e não um truculento que não saberá lidar com a população uma vez eleito. Se procurar bem, com toda certeza encontramos essa pessoa, talvez não com nota dez em todos os quesitos, mas com nota 8, ou até um 7. E para mim já estaria bom. Seria muito mais seguro essa pessoa do que mandar um estagiário assumir esse posto de trabalho que, acaba sendo o mais importante do país, acima de um médio, de um mecânico, de um professor, de um policial, pois afinal, todos os cargos dependem do governo para seu bom funcionamento. 

Dito tudo isso, volto ao início para justificar meu medo ao ver os nomes que vem surgindo, não contarei o santo, mas... para mim é inaceitável ver um apresentador de programas de auditório virar presidente, uma vez que essa pessoa fez somente isso a vida inteira, nunca foi vereador, prefeito, governador estadual, nem deputado foi. Ele é ótimo apresentador, mas não confio que ele saberia lidar com os dramas complexos do nosso país, ele não poderia nem se quisesse, pois não sabe. Ainda sem contar o nome dos santos, vi na eleição passada e estou vendo o filme se repetir para 2022; temos todos os tipos de profissionais se promovendo na internet para criar um nome aceito pela população a concorrer o cargo de presidente, vai de guarda municipal, passando por policiais, delegados, empresários, modelos de passarela, ator de novela e youtubers. Entre os nomes que vem surgindo, os que mais me enojam são aqueles que se autointitulam out siders, aquele que diz de fora da política, diz não ser político, diz ser empresário, gestor, CEO (Chief Executive Officer) que significa Diretor empresarial numa tradução livre para o português. Essa gente, provavelmente não são bem-sucedidas nas suas funções na coisa privada, se fosse, ele não se aventuraria se desligar da sua função que, se bem-sucedido, remunera-se bem, para vir ser político, se ainda assim ele fazer essa loucura, a chance de ele ter sucesso, com base nos últimos que assim o fizeram, é zero. Um erro colossal é achar que a coisa pública funciona como a coisa privada, empresas tem um regime ditatorial, o chefe manda e todos obedecem ou são desligados, um presidente não tem esse poder, e ainda que tivesse isso daria errado, já foi feito, os governos ditatoriais têm uma coisa em comum, todos acabaram de forma trágica, não queremos isso. Sendo assim, empresários, gerenciem suas empresas, cargos públicos requer outras habilidades que vocês ainda não têm, como dizem por aí no linguajar chulo: o buraco é mais embaixo. 

Que fique claro, respeito totalmente todas as profissões, de coração. Um bom policial, treinado e experiente me faz me sentir seguro, é a pessoa que eu quero por perto caso esteja sofrendo algum tipo de violência, acho incrível um apresentador de programa de tv, um ator com a arte estampada no rosto, um youtuber com a disciplina de criar um canal bem-sucedido que me prende atenção todos os dias. Mas se for para assumir o cargo de presidente, a pessoa que tomará decisões que impactam minha vida, o custo dos alimentos, o custo da gasolina e do diesel, o custo do financiamento, a qualidade das escolas, da segurança pública, da saúde, meu salário, a inflação, o dólar, a lista quase não têm fim... Daí não. Vou preferir o profissional formado por uma instituição séria, com a experiência de um dia ter tido outros cargos públicos (vereador, prefeito, governo estadual, deputado, senador, etc), e que, além disso, conheça bem o jogo político, aquele que sabe manipular a máquina pública de forma a fazer se aprovar seus projetos e planos para crescimento do país, caso falte essa última qualidade, ele ficará só na boa intenção, e como diz meu pai, de boas intenções o inferna está cheio, precisamos de um líder agora, inteligente, sagaz, experiente e articulado. Pelo amor de deus, não mandemos mais estagiários para o cargo mais importante da nação, não mandemos mais pessoas desinformadas e/ou não formadas e inexperientes para decidir nossas vidas. 

Para encerrar este texto longo, quero dizer que sou favor de todos terem o direito de assumir um cargo público, é uma premissa da democracia, agora, assim como para qualquer função profissional, você estuda, se prepara, assume cargos afins menos importantes para ganhar experiência. Para assumir o cargo de chefe do país, precisa ter preparo, precisa estudo, tempo de carreira, experiência e articulação. Quer ser presidente? Comece gerenciar bem sua casa, se torne líder da vizinhança, ajude as pessoas da rua a resolver problemas juntamente à prefeitura representando-os, vire um vereador, concorra para prefeito, tente ser um governador, vire um deputado etc., as possiblidades são muitas, o caminho é longo e árduo, mas para ser um bom profissional exige esforço. Caso se submeta a isso, em algum momento você será a pessoa mais preparada para concorrer e assumir esse posto, será aceito pela comunidade nacional e internacional, terá apoio e competência para chegar lá e realmente fazer a diferença, não ser apenas mais um presidente boboca, falastrão que fica nas boas intenções da campanha e entrará para a história como uma vergonha nacional, sem ter feito nada de bom ou relevante para o Brasil, mas um orgulho para a nação que o lembrará saudosamente algum dia. Só isso!

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